09/02/2013

O medo e a escrita

Publicada por Ana Reis à(s) sábado, fevereiro 09, 2013
Sou altamente improdutiva quando escrevo.

Na verdade, se fosse avaliar a questão de um ponto de vista objectivo e racional (o meu preferido), diria que escrever é uma completa perda de tempo.

by dhester


Passo muitas horas a jogar ao sério com o ecrã do meu computador. E outras tantas em séria contemplação das minhas falhas enquanto escritora. No fim, não só não tenho absolutamente nada para mostrar, como ainda me tornei a involuntária dona de uma gigante dor de cabeça.

Para além da óbvia natureza pouco atraente da coisa, escrever também não é nada fácil. Nem se torna mais fácil com o tempo. Nunca.

A única coisa que se torna mais fácil é a nossa capacidade de aceitar as coisas como elas são. Aceitar que vamos coleccionar horas perdidas e dores de cabeça. Que vamos perder oportunidades de fazer outras coisas interessantes. Apenas para manter o nosso traseiro no lugar e continuar a jogar ao sério com o ecrã até conquistarmos alguma minúscula vitória.

Tentei encharcar-me de regras e dicas na esperança que a coisa se tornasse mais fácil. Porque, teimosa como sou, sempre dei por mim a regressar. Com ou sem ideias. Com mais ou menos dores de cabeça. Com muito ou pouco tempo. Com muito sono ou com insónias terríveis.

Diante dessa minha teimosia em regressar fiz o que qualquer pessoa normal faria: tentei racionalizar o irracional e encontrar utilidade para as horas perdidas em sérias batalhas para colocar algumas palavras no papel.

No processo acabei por deixar que as opiniões de terceiros calassem a minha intuição. A minha escrita tornou-se polida e contida. E como a escrita em tantos outros blogues e livros, tornou-se banal e previsível. É uma escrita sem medos, aceitável, mas que não merece mais do que um segundo olhar.

É aqui que me encontro neste momento. E podia dizer que estou desmotivada com a situação. Mas a verdade é que não estou.

Escrever com toda a pressão perfeccionista aos ombros não deixa muita margem de manobra. É relativamente livre de riscos. Mas também é relativamente aborrecida. E é por isso que decidi dar um passo atrás.

E esse retrocesso levou-me a eliminar os conceitos de boa ou má escrita. Que na verdade são pequenas invenções que servem o único propósito perverso de nos criticarmos uns aos outros sem qualquer peso na consciência. Porque assim como uma boa dicção não é garantia de que sejamos bons oradores, saber escrever de acordo com as regras também não é garantia de que sejamos bons escritores.

A escrita que causa impacto é invisível. É aquela que faz com que as pessoas arrumem temporariamente as suas neuroses quotidianas e, por uma facção de tempo, sejam transportadas para outro lugar. E esse efeito não se consegue sendo politicamente correcto ou contendo aquilo que na verdade queremos dizer.

Esse tipo de escrita é para os temerários e envolve lidar com medos e riscos. Assim como envolve a possibilidade de fracassar.

E essa atitude só se consegue se, por momentos, nos desprendermos na nossa necessidade de ser elogiados e nos deixarmos levar pela nossa intuição. Seja por becos e ruelas escuras. Ou pelas ruas de grandes cidades. Não sabendo bem para onde vamos, ou como vamos lá chegar.

2 comentários complexos:

Anónimo disse...

objetivamente e racionalmente faz-te sentir bem escrever, faz-me sentir bem ao lêr-te bgdo

Ana Reis on 11 de agosto de 2013 às 08:38 disse...

Obrigada! Um abraço :)

 

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