07/04/2013

A revolta das florzinhas de estufa

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, abril 07, 2013 3 comentários complexos
Algumas pessoas metem-se debaixo da minha pele.

Fazem-me ter vontade de lhes espetar um dedo no olho só para deixar de as ouvir. Atiram bombas, dão cabo da minha auto-estima e depois vão-se embora e deixam-me a ponderar sobre os destroços.

E depois chega o dia em que uma pessoa já ouviu o suficiente. Já desenvolveu uma espécie de imunidade contra essa virulência. E essas pessoas falam e falam. Atiram barbaridades para a minha cara e, em vez de me lançarem num cenário de auto-destruição assistida, deixam-me apenas irritada. Na mais pura e irrestível das fúrias.

Daquelas que me impelem para a frente. Que me fazem mostrar os dentes. Daquelas que me impedem de fingir que sou toda sorrisos e cortesias.

Prefiro assim. Prefiro essa raiva desgovernada à tristeza crescente. Prefiro os dentes à mostra às lágrimas incontidas.

Existe algo de mais autêntico nessa fúria. Algo de mais meu. Já não há o medo. Nem o receio de ficar mal vista ou de ser rejeitada. Já não há a mania do rebaixamente contínuo. Existe apenas a fúria e o instinto da auto-preservação.

Um momento em que proteger aquilo que sou e defender aquilo que faço se torna mais importante do que evitar fazer ondas numa situação profundamente delicada.

Sempre pensei que as minhas falsas cortesias morressem um dia por excesso de maus tratos. E talvez hoje seja o dia. Ou talvez seja uma morte lenta, em quatro actos, com uma sinfonia descarrilada como pano de fundo.

Talvez isto seja crescer. Aprender que ter opiniões próprias, por muito impopulares que sejam, é mais importante do que ceder a pressões sociais.

Sempre fui tão contida, tão calada, tão reservada. Mas uma pessoa sabe que tem que fazer mais do que rolar na lama quando descobre que o mundo não é um prado cheia de florzinhas amarelas e perfumadas.


by @Doug88888


Preciso de ser mais dura, nem que um dia acabe a viver sozinha numa gruta rodeada de ursos. Continuo a achar que um futuro assim é preferível a um completo abandono dos meus ideais.

Continuo a achar que mereço odiar as pessoas. E que posso olhar para elas e não ver os heróis perfeitos que elas dizem ser. Continuo a estar na idade de tomar decisões idiotas. Porque ainda estou na idade de desfazer o que já fiz e começar de novo. Ainda estou na idade de decidir que não preciso de me agarrar a um pedaço pestilento de terra.

E possivelmente vou continuar a achar que estou na "idade", mesmo quando tiver que apagar 80 velas no meu bolo de aniversário.

Tornei-me velha quando decidi prescindir do meu direito de ser rebelde. E quando comecei a ver a vida como uma sucessão de conquistas. Desfazer isso começa por deixar de ter a mania de me comportar como uma florzinha de estufa.

Passa por ser uma pessoa completa com tudo o que é de bom, mau, péssimo, pestilento, confuso e agoniante. Passa por aceitar a fúria de forma pacífica, de gozá-la e aproveitar toda a energia que ela traz para produzir algo, nem que seja um artigo inútil como este.

[A todos os meus leitores fantásticos, obrigada por estarem desse lado dos meus devaneios!]
 

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