06/08/2013

Sapos, música ambiente e primeiros rascunhos

Publicada por Ana Reis à(s) terça-feira, agosto 06, 2013 4 comentários complexos
Começo a escrever. Lentamente ao início. Ganhando velocidade a cada novo minuto. Um início é sempre penoso, demora até que os meus dedos entrem no ritmo e até que os meus pensamentos se ajustem à página. E enquanto não consigo ver com clareza vou-me entretendo com o meu pântano de tretas e com os sapos que por lá vagueiam.

Frog de wattersflores

Não vou dizer que percebi logo ao início o que eram os sapos. Pensei que eram seres bonitos, interessantes e descomplicados e achei que talvez fosse boa ideia deixar-me enrolar. Foram as pequenas coisas que os denunciaram: as desculpas matreiras e totalmente racionais que usavam para me desviar do meu caminho.

Eu queria atravessar o pântano e chegar à minha zona, aquela onde consigo escrever. Mas os sapos estavam lá. E a cada um que derrotava apareciam outros, maiores, mais gordos e mais espertos... e cada vez mais assustadores. Agora não só tinha o pântano de tretas como tinha os sapos para esquivar.

Tanto as tretas (pensamentos que me distraem) como os sapos (excessiva racionalidade) têm a sua utilidade. Ajudam-me a encontrar a ordem no caos. Mas ao escrever eu não quero a ordem, pelo menos não ao início, eu quero o caos.

Então continuo a teclar ao som de Blues, Jazz e Ciberpunk até que a música me começa a irritar. O barulho é bom, distraí os sapos. E dá-me tempo para atravessar o pântano sem ficar presa nele, sem olhar para trás, sem correr o risco de encontrar um sapo gordo e gigante pelo caminho, com vontade de me papar.

Ás vezes ainda assim lá encontro um sapo. Os mais velhos são sempre mais sacanas. As pregas de gordura, a pele rugosa, os olhos enormes o hálito a moscas mortas. Tudo desenhado para me assustar. Ás vezes ganho às vezes perco. Nada é muito certo.

Por isso ouço um pouco mais de música, leio coisas parvas no Facebook, questiono a sabedoria da minha decisão de nunca abandonar a escrita, faço planos estúpidos para o caso de perder um braço ou ficar cega, e questiono-me se terei que contratar alguém para escrever por mim no caso disso acontecer.

Alheia ao facto de neste momento possuir dois braços e um rabo para me sentar. E nestas divagações canso o sapo e a parte do meu cérebro que está dolorosamente consciente da sua existência. E quando dou por mim entrei na Zona e estou a olhar nos olhos o caos.

Eu gostava de dizer que sou perita na zona. Mas não sou. Ás vezes, em divagações encontro-a sem querer, outras vezes, querendo acabo por falhá-la por quilómetros.

O único sinal de que estou a entrar nessa zona é o passar do tempo e das palavras. Ela costuma chegar depois das primeiras 500 palavras de treta e quando chega tenho que desligar a música e concentrar-me unicamente no ecrã. Não existe fogos de artifício por lá, apenas uma estranha elasticidade do tempo e uma vaga sensação de que as horas voam e que os minutos se derretem e que os meus dedos teclam à velocidade da luz. Talvez eu esteja a trabalhar à velocidade duma tartaruga bebé para o observador comum. Não sei, não tenho por hábito deixar-me ser observada quando escrevo. Mas aos meus olhos agrido as teclas a uma velocidade estonteante e é essa inércia, esse contínuo, que me impede de parar.

Quando estou cá deixo de ser a pessoa que sempre fui, deixo de estar consciente de todas as coisinhas que me pareciam tão importantes à alguns momentos e foco-me na escrita e no ritmo e nas coisas que fluem sem travões para o ecrã em branco que se vai preenchendo excessivamente com palavras e frases e parágrafos que não têm prazo para acabar.

Aquilo que me apercebi ainda ontem é que tenho sido idiota. Estava preocupadíssima porque não conseguia continuar as histórias que começava. Estava já a começar a questionar se não devia desistir de vez para não ter que sentir na pele esta estagnação.

Foi então que tive uma ideia quando estava a estender a roupa ao sol. Os meus dedos começaram a formigar, com a antecipação do ritmo. Não precisei de atravessar nenhum pântano quando me sentei a escrever, não precisei de suportar 500 palavras de tretas, fui directa onde tinha que ir. E só parei passadas 1700 palavras. Aquilo que percebi mais tarde é que foi extremamente fácil escrever assim. Simplesmente porque estava a contar a história do ponto de vista do protagonista. Estava na cabeça dele, estava a sentir aquilo que ele estava a sentir.

Talvez seja o começo de um crónico caso de delírio. Ou talvez eu tenha finalmente aberto os olhos a um facto estupidamente simples: eu só me importo com a história quando a conto na primeira pessoa. E quando corto todo e qualquer contacto com o mundo que me rodeia. Quando confio que as coisas não vão desabar pelo simples facto de eu não lhes prestar atenção durante uns minutos.

Quando conto a história na terceira pessoa imediatamente ganho aquele tom convencido e épico que tenho que a certeza de ter aprendido com os filmes de Hollywood. De repente a minha história torna-se demasiado importante para mim, torna-se um gigante de 50 olhos e eu dou por mim a cantar-lhe o Somebody that I used to know... e a ficar-me por ali. O rascunho fica, mas o entusiasmo evapora-se.

A verdade é que não me posso dar ao luxo de me levar demasiado a sério. Demasiado julgamento analítico do tema deixa-me presa a um monólogo com o sapo gigante que ronda os meus pântanos. Histórias demasiado épicas tornam-se patéticas nas minhas palavras, não importa quanto eu tente, correm sempre mal. Os meus heróis (se é que os posso encaixar nessa categoria) são mais como eu, não têm grandes peitorais ou abdominais, não têm grande jeito para carregar uma espada, mesmo aquelas que são de brincar. Não têm grande capacidade para serem lideres audazes.

Na maior parte dos casos são extremamente curiosos, metem-se onde não se deviam meter. Não são muito eloquentes, nem elegantes, nem se sentem confortáveis nas luzes da ribalta. Mas os sítios para onde eles me levam não deixam de me surpreender, não deixo de ficar interessada, não paro de rir com as observações ridículas e irónicas que eles fazem sobre o mundo que tento criar para eles. Portanto, não deixo de me divertir. Se um dia escrever sobre heróis de tanga será uma história patética e sem substância.

Com tudo isto consegui não desistir do conto que começou a formar-se na minha cabeça quando estava a estender a roupa. Prometo que não tem nada a ver com a lide doméstica (para já pelo menos). Tem sido divertido escrever ficção depois de tanto tempo a achar que era uma nódoa. Por isso, para não correr o risco de desistir do conto prometo a todos vocês que o irei publicar (neste blog ou numa revista louca que o queira aceitar) em português e inglês para todos que quiserem divertir-se um pouco com o fruto das minhas divagações!

Conto com vocês para me melgar o juízo no acaso de ficar cativada com um sapo mais elegante e me esquecer de continuar a avançar.

18/05/2013

Heróis de cuecas (e porque o mundo está melhor sem eles)

Publicada por Ana Reis à(s) sábado, maio 18, 2013 2 comentários complexos
Olho-me ao espelho. Cara lavada. Sem artifícios. Pela primeira vez em anos consigo ver para além das minhas olheiras escuras e encontrar os meus olhos. Consigo ignorar as minhas sobrancelhas por depilar, a minha cara assimétrica, a minha pele ainda assaltada por pequenas erupções de borbulhas. Consigo ver para além do estado desastroso em que se encontra o meu cabelo. E quase que consigo perdoar os meus incisivos por terem diferentes tamanhos. Afinal de contas, ninguém tem culpa de eu ter escorregado e caído no chão de uma piscina pública de uma forma tão pouco sexy.

Costumava ficar deprimida por dias sem fim por ser tão ignorada pelos meus amigos e colegas. Costumava fantasiar com o momento em que as coisas iam começar a correr bem. Tal como me tinham prometido nas histórias. E, por isso, decidi manter o meu bom comportamento e esperar pelas mais-que-merecidas recompensas.

Agora, a semanas do meu 25º aniversário eu consigo sentir o tempo a passar. Quando penso na última vez que fiz algo de realmente mind-blowing tenho que contar os meses e os anos, não as simples semanas e dias que sempre separavam uma aventura da seguinte.

Quase 25 anos e o meu conto de fadas continua num irritante stand-by. Não existe ninguém para me salvar agora. Nenhum herói em collants e cuecas com a capa a esvoaçar ao vento. Eu dei os meus saltos e caí, sem ninguém para me apanhar. Apenas comigo mesma a chamar-me de estúpida e a enrolar-me num canto. Mas agora percebo que a única solução que me resta é continuar a saltar.


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É certo que os seres humanos não estão programados para crescer umas asas. Mas somos elásticos. E um elástico só parte quando foi demasiado longe. E mesmo quando chegamos a esse limite longínquo percebemos que podemos continuar a expandir, a partir, a crescer e a viver.

A maior mudança que vivi foi quando mudei de país. É certo que estava à distância de uma mísera hora de de avião. Mas essa hora parecia-me sempre maior, principalmente naqueles malditos voos das 6 da manhã, em que os hospedeiros conseguiam sempre assustar a minha vontade de dormir enfiando-me revistas pela cara adentro e dispersando cafeína pela cabine. Mas isso são histórias para outra altura, envolvendo multas injustas e outras aventuras menos excitantes.

O que eu queria dizer é que estar noutro sítio mudou-me. Não como naqueles programas de extreme makeover. Não voltei uma pessoa diferente, apenas voltei mais “eu”. E sei que isso não deverá ter agradado a toda a gente. Experimentei-me como nunca tinha feito, sem as minhas rodas de apoio. As mesmas que usei durante toda a minha vida antes de ter decidido partir.

E é aqui que entram as minhas olheiras e cara assimétrica. Descobri que, no fim de todas as neuroses, no fim de toda a carência, no fim de toda a necessidade de ser aceite e admirada pelos meus genes, nada disso jamais me iria voltar a preocupar. Eu continuei igual por fora, mas os meus olhos nunca mais voltaram a captar as coisas da mesma forma e os meus pensamentos nunca mais voltaram aos seus padrões originais.

Descobri que gosto de andar sem maquilhagem. Porque, sem maquilhagem, existe uma camada a menos entre mim e o mundo que é tão rico e tão selvagem que não precisa de heróis de collants para animar as coisas.

Gosto de ser eu. Mesmo que isso implique ferir pessoas. Porque feri-me a mim mesma durante toda uma vida, não me permitindo ser quem na verdade sou. Uma bookworm, que adora animes, mangas e tudo o que tenha alguma coisa a ver com cultura japonesa. Gosto de vestir uma bata e fazer as coisas esquisitas que os microbiólogos fazem num laboratório. Gosto de sentar-me a escrever ao fim do dia, mesmo com dores de cabeça e na iminência de adormecer em cima do teclado. Gosto de recusar convites para festas quando estou a seguir uma história na minha cabeça.

Não gosto de pensar no passado. Nas coisas que fiz em momentos em que só tinha metade do cérebro em funcionamento. Não gosto de pensar nas coisas que devia ter dito e feito. Gosto de pensar no agora. No fim da tarde e na família fantástica que está disposta a aguentar os meus sonhos ridículos apenas porque gosta de me ver sorrir.

Nunca fui uma pessoa muito optimista. Mas sempre fui curiosa. E sempre que a dúvida se instala ou a coragem desmorona há algo que faz ficar: a impaciência de saber o que vai acontecer a seguir! Porque enquanto ainda estiver viva coisas magníficas podem e vão acontecer. Vou aprender a saltar e aprender a cair e aprender a levantar-me e a fazer tudo de novo. E mais vale começar o mais rápido possível, porque a vida não fica mais fácil

Nunca vou escrever aquele livro que tenho em mente se estiver à espera de ter vontade. Porque a vontade é caprichosa e às vezes só aparece quando já temos as mãos bem enterradas na massa. A motivação vem de dentro, de saber que não posso dar-me ao luxo de desistir. Porque da próxima vez que me entregar à corrente da vida podem passar anos até que eu tenha forças, vontade ou paciência para submergir novamente e sonhar.

O sonho não se vive na cabeça. É um esforço diário, contínuo e casmurro como um raio. É saber que o caminho é difícil, cortante, sufocante e sorrir.

14/05/2013

Terapia de choque

Publicada por Ana Reis à(s) terça-feira, maio 14, 2013 1 comentários complexos
Sinto uma neblina a instalar-se a partir duma certa hora. Por isso tenho que me levantar para fazer uma saudação ao sol no chão da sala (os praticantes de Yoga vão perceber).

Ajuda sempre um pouco. E não deixa de ser mais inteligente que um café nocturno, que me deixa sempre a debater furiosas teorias pela noite dentro.

Neste momento o meu cérebro a esforça-se para além da sua quota diária de energia. Sinto-me como se tivesse apenas meio cérebro.

O que me permite suportar apenas metade das tretas que são habituais. O que não deixa de ser óptimo, visto que foram essas tretas bem pensadas que tornaram a minha escrita tão falsa nos últimos tempos.

Sinto uma certa saudade de escrever como escrevia na minha adolescência. Com os dramas, catastrofismos e toda aquela inocência parva que nunca tinha medo de arriscar.

Talvez eu tivesse apenas meio cérebro na altura. Com todas as hormonas em estratagemas de distracção crónica. Se escrevi para além de tudo isso suponho que não tenho desculpas para não o fazer agora.


Tenho escrito de forma consistente nos últimos dias. Porque me deixei de meias-soluções (=tretas) e me atirei de cabeça. Parece que planos extravagantes e passinhos de bebé não funcionam comigo.

Aparentemente, pelo andar das coisas, o que parece funcionar é terapia de choque. Ser brutal com a minha preguiça pós-jantar, sentar-me na cadeira mais desconfortável da casa e simplesmente escrever como se amanhã não fosse dia de trabalho.

Passei tanto tempo em busca de truques mágicos. Nunca me deti realmente a analisar se essas extravagâncias poderiam funcionar comigo.

Sou uma pessoa de passos de gigante. Não foi sempre assim. Mas começou a ser a partir do momento em que percebi que era demasiado boa a inventar desculpas. Em antecipação da incerteza que sempre sinto ao escrever a minha mente prefere sempre dar um tiro no pé.

A única solução viável é arranjar qualquer distracção que me permita aproximar do teclado sem que ela tenha tempo para debitar as suas velhas desculpas.

Só assim é que realmente consigo encontrar aquela folga que preciso para começar a teclar. Aquela brecha entre as neuroses do meu dia-a-dia e a clareza da imaginação.

01/05/2013

Sonhos eternos

Publicada por Ana Reis à(s) quarta-feira, maio 01, 2013 2 comentários complexos
Tenho a horrível sensação que me estou a tornar numa daquelas eternas aspirantes que escreve muito sobre como é dificil escrever mas que, na prática, não faz mais do que ingerir calorias, ver séries e fazer maratonas de filmes com pijama.

Já não sou nenhuma criança. Por isso suponho que já não preciso de  pintar o cenário de cor-de-rosa, fingir que tudo é fantástico e que a vida é uma pradaria (eu ia escrever mar de rosas, mas achei que era demasiado cliché e eu estou numa cruzada contra os clichés... um dia falo sobre isso).

Portanto sou adulta o suficiente para admitir que não tenho aquilo que é preciso para escrever um livro. Pelo menos neste momento da minha vida...

Não tenho, porque passo os meus dias apressados concentrada noutra coisa qualquer e quando realmente arranjo tempo acabo por esgotá-lo com lamúrias.

Estou naquele ponto da minha vida em que já tentei o suficiente para saber que o caminho não é nada fácil. Mas ainda me falta a convicção (ou temosia) para me atirar a ele.

O que me custou admitir é que, ás vezes, os sonhos não passam disso porque não temos o sangue frio para lhe tirar o romantismo e para começar a vivê-los. Não temos coragem suficiente para os tirar da cabeça e pôr-los no papel. Porque já fizemos algumas tentativas patéticas que nos deixaram de rastos.

Os sonhos são sempre mais bonitos na nossa cabeça. Porque nela não temos que lidar com as nossas falhas ou limitações. E por isso é sempre mais confortável mantê-los assim.

Mas também chega a um ponto em que nos fartamos das nossas próprias fantasias. Qualquer desejo ou sonho por realizar azeda e mantê-lo em processo forçado de maturação só acumula resentimento e miséria.

O momento para desistir é agora. Quando ainda não tentei o suficiente. Sinto-me tentada a isso.

O que existe para além deste impasse é-me desconhecido. Tudo o que existe para além deste precipício é uma anormal queda de 20 metros, e é só no momento em que damos o salto é que descobrimos se somos um pássaro ou se nos vamos esborrachar no chão...

07/04/2013

A revolta das florzinhas de estufa

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, abril 07, 2013 3 comentários complexos
Algumas pessoas metem-se debaixo da minha pele.

Fazem-me ter vontade de lhes espetar um dedo no olho só para deixar de as ouvir. Atiram bombas, dão cabo da minha auto-estima e depois vão-se embora e deixam-me a ponderar sobre os destroços.

E depois chega o dia em que uma pessoa já ouviu o suficiente. Já desenvolveu uma espécie de imunidade contra essa virulência. E essas pessoas falam e falam. Atiram barbaridades para a minha cara e, em vez de me lançarem num cenário de auto-destruição assistida, deixam-me apenas irritada. Na mais pura e irrestível das fúrias.

Daquelas que me impelem para a frente. Que me fazem mostrar os dentes. Daquelas que me impedem de fingir que sou toda sorrisos e cortesias.

Prefiro assim. Prefiro essa raiva desgovernada à tristeza crescente. Prefiro os dentes à mostra às lágrimas incontidas.

Existe algo de mais autêntico nessa fúria. Algo de mais meu. Já não há o medo. Nem o receio de ficar mal vista ou de ser rejeitada. Já não há a mania do rebaixamente contínuo. Existe apenas a fúria e o instinto da auto-preservação.

Um momento em que proteger aquilo que sou e defender aquilo que faço se torna mais importante do que evitar fazer ondas numa situação profundamente delicada.

Sempre pensei que as minhas falsas cortesias morressem um dia por excesso de maus tratos. E talvez hoje seja o dia. Ou talvez seja uma morte lenta, em quatro actos, com uma sinfonia descarrilada como pano de fundo.

Talvez isto seja crescer. Aprender que ter opiniões próprias, por muito impopulares que sejam, é mais importante do que ceder a pressões sociais.

Sempre fui tão contida, tão calada, tão reservada. Mas uma pessoa sabe que tem que fazer mais do que rolar na lama quando descobre que o mundo não é um prado cheia de florzinhas amarelas e perfumadas.


by @Doug88888


Preciso de ser mais dura, nem que um dia acabe a viver sozinha numa gruta rodeada de ursos. Continuo a achar que um futuro assim é preferível a um completo abandono dos meus ideais.

Continuo a achar que mereço odiar as pessoas. E que posso olhar para elas e não ver os heróis perfeitos que elas dizem ser. Continuo a estar na idade de tomar decisões idiotas. Porque ainda estou na idade de desfazer o que já fiz e começar de novo. Ainda estou na idade de decidir que não preciso de me agarrar a um pedaço pestilento de terra.

E possivelmente vou continuar a achar que estou na "idade", mesmo quando tiver que apagar 80 velas no meu bolo de aniversário.

Tornei-me velha quando decidi prescindir do meu direito de ser rebelde. E quando comecei a ver a vida como uma sucessão de conquistas. Desfazer isso começa por deixar de ter a mania de me comportar como uma florzinha de estufa.

Passa por ser uma pessoa completa com tudo o que é de bom, mau, péssimo, pestilento, confuso e agoniante. Passa por aceitar a fúria de forma pacífica, de gozá-la e aproveitar toda a energia que ela traz para produzir algo, nem que seja um artigo inútil como este.

[A todos os meus leitores fantásticos, obrigada por estarem desse lado dos meus devaneios!]

31/03/2013

Sermões interrompidos

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, março 31, 2013 0 comentários complexos


Sou uma pessoa estranha. Mas quem precisa de rótulos realmente?

Não morro de amores por festas barulhentas. Abomino a privação de sono. A mutilação dos meus preciosos tímpanos. Gosto de pensar que não terei a desagradável tendência de berrar na cara das pessoas quando chegar à senilidade.

E contudo. Apesar de tudo isso. Continua a ser difícil manter-me num estado de isolamento auto-imposto que a escrita precisa. Existem copos de água à espera de serem bebidos. Chocolates abandonados no armário da cozinha. Programas ridículos que precisam de ser criticados. Gatos que precisam de ser mimados. Sofás que precisam de ser aproveitados. Teias de aranha à espera de serem limpas, não vão os ditos insectos começar a sentir-se demasiado confortáveis.

Podia vomitar um qualquer discurso pré-fabricado. Com ideias que não me apetece defender. Com divagações levemente psicóticas. E intelectualizações fingindas. Tenho algumas de reserva.

Podia apressar todo este processo. Escrever uma respeitável parvoíce e ir dormir com a falsa sensação de dever cumprido. Mas não me apetece ser assim. Apetece-me ser patética e cometer erros.

Passei tanto tempo em plágio de ideias e estilos que não eram os meus. Com medo que as minhas próprias ideias fossem fracas como uma velha raquítica. Com medo que a minha voz fosse afónica e anorética.

Passei tanto tempo a pregar o correcto. A escrever coisas como "devemos", "temos que..." ou "não podemos". Passei tanto tempo a tentar ser uma boa escritora. Foi como rolar na lama e secar ao sol vezes sem conta.

Nunca pensei que fosse tão difícil raspar essa lama das minhas roupas. Nunca pensei que essa hipocrisia fosse tão difícil de ultrapassar.

Talvez por isso tenha criado este blog. Numa altura em que estava enjoada comigo mesma. A ressacar dos meus delírios de grandeza. A ressentir-me dos poucos frutos e dos muitos esforços. Criei-o na ânsia de me desligar da hipocrisia que fui alimentando ao longo de horas e horas de más filosofias.

Criei-o para ter a liberdade de escrever mal e porcamente. E para ignorar respeitosamente todas as regras da boa escrita. Criei-o porque me fartei de escrever o correcto.

Criei-o porque percebi que é muito mais interessante escrever até encontrar algo importante para dizer, do que propagar ideias estéreis de seriedade com palavras bonitas.

09/03/2013

50 tons de vermelho

Publicada por Ana Reis à(s) sábado, março 09, 2013 0 comentários complexos
As minhas indecentes faces rosadas já me meteram em mais sarilhos do que aqueles que eu gosto de partilhar. Tantos que poderia começar a relatá-los agora mesmo e daqui a um ano ainda estaria aborrecer-vos com a mesma conversa (talvez até escreva uma trilogia.. who knows...).

by aftab


Eventualmente fiquei cansada de lutar contra isso. Até porque estava a ter tanto sucesso quanto o nosso querido primeiro-ministro e as suas medidas de austeridade.

Não posso simplesmente pôr um saco na cara e fingir que a minha cara não está a arder como um incêndio florestal. Mais vale pôr o cabelo atrás da orelha e deixar que os outros desfrutem em pleno da visão das minhas faces incandescentes.

24/02/2013

Prefiro ser uma freak

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, fevereiro 24, 2013 2 comentários complexos
O meu fantástico gato e a reacção dele sempre que eu começo a divagar...

Dada a minha tendência incontornável de tomar decisões parvas devia ter previsto que o passeio de hoje ia acabar num shopping super populado a fazer altos devios a carrinhos de bebé aceleras e a evitar ser atinginda por sacos de compras megalómanos.

Um naufrágio parece menos cansativo do que conviver com as neuroses de quem não tem nada de interessante para fazer ao fim-de-semana e decide inundar o shopping mais à mão!

Não que eu tenha grandes desculpas. Supostamente tinha um relatório para terminar. Mas consegui evitá-lo agilmente todo o Domingo. Assim como consegui evitar escrever.

17/02/2013

Um toque de melodrama

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, fevereiro 17, 2013 1 comentários complexos
Custou-me a descobrir aquilo que queria dizer hoje.

Tentei escrever sentada no sofá, deitada na cama ou com as pernas à chinês. Já tentei meditar, premeditar... acho que só me falta mesmo tentar levitar!

Talvez esteja a levar isto demasiado a sério (...outra vez!). Estou sempre a cair no mesmo buraco sem fundo e agora tenho que arrastar o meu rabo pela escarpa acima para poder finalmente escrever sem restrições.

By gefrsh72


O que eu queria escrever era muito simples. Tão simples que podia reduzí-lo a uma frase apenas. E tentei fazê-lo, umas 50 vezes.

09/02/2013

O medo e a escrita

Publicada por Ana Reis à(s) sábado, fevereiro 09, 2013 2 comentários complexos
Sou altamente improdutiva quando escrevo.

Na verdade, se fosse avaliar a questão de um ponto de vista objectivo e racional (o meu preferido), diria que escrever é uma completa perda de tempo.

by dhester


Passo muitas horas a jogar ao sério com o ecrã do meu computador. E outras tantas em séria contemplação das minhas falhas enquanto escritora. No fim, não só não tenho absolutamente nada para mostrar, como ainda me tornei a involuntária dona de uma gigante dor de cabeça.

Para além da óbvia natureza pouco atraente da coisa, escrever também não é nada fácil. Nem se torna mais fácil com o tempo. Nunca.

03/02/2013

Histórias sobre tralhas

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, fevereiro 03, 2013 1 comentários complexos


Tralhas servem para muita coisa. Mas gostamos especialmente daquelas que não servem para coisa nenhuma. Ou daquelas que servem apenas para nos lembrar dum breve sonho que tivemos mas que nunca nos esforçamos por cumprir.


Os livros da minha infância

Elas têm a sua função. Mas não aquela que gostamos de inventar.

 

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