09/03/2013

50 tons de vermelho

Publicada por Ana Reis à(s) sábado, março 09, 2013
As minhas indecentes faces rosadas já me meteram em mais sarilhos do que aqueles que eu gosto de partilhar. Tantos que poderia começar a relatá-los agora mesmo e daqui a um ano ainda estaria aborrecer-vos com a mesma conversa (talvez até escreva uma trilogia.. who knows...).

by aftab


Eventualmente fiquei cansada de lutar contra isso. Até porque estava a ter tanto sucesso quanto o nosso querido primeiro-ministro e as suas medidas de austeridade.

Não posso simplesmente pôr um saco na cara e fingir que a minha cara não está a arder como um incêndio florestal. Mais vale pôr o cabelo atrás da orelha e deixar que os outros desfrutem em pleno da visão das minhas faces incandescentes.



Como é óbvio, as pessoas tiram todo o tipo de conclusões do facto das minhas faces se iluminarem à mínima provocação.

Admiro especialmente aquelas que, a transbordar de preocupação, me querem explicar a todo custo, qual o tom de vermelho que a minha face adquiriu. Não vá eu confundir o vermelho escuro com um fraco tom de salmão.

Outras pessoas ignoram-me por simpatia e outras aproveitam para gozar com a situação, como se corar fosse tão obsceno como andar com o cu ao léu.

Já conheci de tudo um pouco. E depois de tanto tempo a tentar mudar o imutável percebi que mais vale habituar-me à ideia e aos olhares horrorizados de trausentes vários a quem apetece abanar e dizer: estou só a corar, tem algum problema com isso?


Na verdade verdadinha as minhas faces mantiveram-me calada durante muito tempo (...e continuam a fazê-lo). Não somos aquilo que sonhamos ser. Não somos as princesas de cabelos esvoaçantes. Ás vezes somos apenas aquela miúda estranha e silenciosa que fica extremamente rosada de forma espontânea e despropositada. Não é suposto termos de aprender a viver com isso!


O vermelho escuro do género doença rara e contagiosa é o que me custa mais. É um tom de vermelho que parece afectar todos os que estão à minha volta e suscitar um ou outro toque no ombro acompanhados do ordinário: está tudo bem!? E um olhar de preocupação de quem está à espera que eu comece a ter convulsões e a rolar pelo chão.

Não vejo nada de positivo em corar. Mas, por outro lado, divirto-me com a reacção das pessoas. Como se umas faces rosadas fossem tão espectaculares como um truque de magia. E posso garantir que, 90% das vezes, tenho sempre um público atento e deslumbrado que insiste em não tirar os olhos de mim.

Gosto especialmente da pergunta: porque é que estás tão vermelhinha? A qual eu respondo mentalmente com algo de género: sabe, hoje levantei-me e pensei "porque não?".

Mas a verdadeira resposta é: coro porque ao meu corpo não lhe interessa que isso seja socialmente desconfortável!

Costumava ficar obcecada à procura de soluções para o meu "problema". Como se corar fosse algo que fizesse de mim um ser humano menos capaz.

Por muito absurdo que isso pareça, essa foi uma crença que carreguei durante muito tempo. Afinal de contas, é suposto sermos todos extrovertidos, populares e obscenamente confiantes... sem 50 tons de vermelho a atrapalhar a nossa vaidade.

Mas o mundo não é perfeito. E uma vida passada a desejá-lo seria uma vida desperdiçada.

Na realidade não há mal nenhum em corar. Porra, temos direito a isso!

Não é nenhum atentado à liberdade alheia. Não liberta maus odores nem ruídos insuportáveis.

E tanto quanto sei apenas me deu uma perspectiva mais peculiar da vida...

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