24/02/2013

Prefiro ser uma freak

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, fevereiro 24, 2013
O meu fantástico gato e a reacção dele sempre que eu começo a divagar...

Dada a minha tendência incontornável de tomar decisões parvas devia ter previsto que o passeio de hoje ia acabar num shopping super populado a fazer altos devios a carrinhos de bebé aceleras e a evitar ser atinginda por sacos de compras megalómanos.

Um naufrágio parece menos cansativo do que conviver com as neuroses de quem não tem nada de interessante para fazer ao fim-de-semana e decide inundar o shopping mais à mão!

Não que eu tenha grandes desculpas. Supostamente tinha um relatório para terminar. Mas consegui evitá-lo agilmente todo o Domingo. Assim como consegui evitar escrever.



É claro que tinha outras coisas para fazer. E é claro que prazo de entrega não é mesmo amanhã! Senão já tinha entrado em alerta vermelho e irritado toda a gente aqui em casa. E da última vez que os vi (antes de decidir que tinha que escrever este artigo) eles pareciam-me bem dispostos... pareciam pelo menos. But, you never know...

Fiquei um bocado farta depois do passeio. Todas aquelas miúdas pós-photoshop em lingerie deixaram-me mal disposta. Ás vezes dá-me destas coisas. São momentos em que sinto uma irresistível vontade de meter uns quantos trapos na mala mais rasca que tenho para aqui, apanhar um avião e emigrar para uma floresta distante!

O mundo tornou-se barulhento e neurótico. Há dias em que já nem sei se aquilo que penso vem de mim ou se o ouvi numa qualquer publicidade que me enfiaram pelos olhos adentro.

A ideia de que somos inadequados assalta-nos a cada esquina. E às vezes estamos tão ocupados a terminar o trabalho que algumas campanhas publicitarias começaram (ex.: você não vale puto se não tomar os nossos comprimidos mágicos e se livrar desses pneuzinhos!) que nem vemos como é tudo tão ridículo.

Lamento queridos. Prefiro viver uma vida interessante e ser uma velha feliz do que injectar botox nas bochechas e evitar as minhas comidas preferidas. Prefiro usar uns trapos velhos e visitar sítios espectaculares do que passar o tempo ao espelho obcecada com a minhas falhas. Prefiro escrever até ficar com cãibras nos dedos do que passar o meu tempo a desejar ser famosa.

Ontem vi uma reportagem na SIC que me deixou perto das lágrimas [e olhem que as minhas lágrimas só se mostram quando há ameaça de bomba...]. Entrevistaram uma rapariga de 35 anos que tem vivido em casas de familiares e amigos nos últimos anos. A Susana tem dois filhos e, como é já é previsível neste país, está desempregada...

Senti um aperto no coração quando ela disse que tinha que vasculhar os contentores no fim-de-semana porque não tinha como alimentar os filhos.

Os meus olhos quase explodiram... Andamos nós para aqui a preocupar-nos se somos ou não adequados, se encaixamos ou não nos estúpido padrões de beleza que excluem todos excepto uns quantos tristes que ganharam a lotaria "genética" e não se calam com isso.

Andamos nós para aqui de cabeça baixa com uma mão a proteger a carteira de ladrões e com a outra a despejar dinheiro em coisas que não nos fazem felizes, mas que nos tornam mais adequados aos olhos dos outros.

Depois de tudo isto só posso concluir que prefiro ser 100% inadequada. Do que passar o meu tempo a tentar encaixar nuns moldes de tamanho XXS e perder o que esta vida tem de melhor.

2 comentários complexos:

Roberto disse...

Penso que também vi essa reportagem. Apesar da situação desagradável que a rapariga está a viver, um passado repleto de más escolhas também não ajuda nada. A droga faz destas coisas. Do resto do artigo apetece-me dizer algo inadequado: não te queixes da tua lotaria :D

Ana Reis on 10 de março de 2013 às 04:38 disse...

Ahah, obrigada pelo comentário Roberto (sim, mesmo o inadequado). É verdade que se notava que ela tinha um passado repleto de más escolhas, mas penso que todos temos até um certo ponto. Isso não significa que tenhamos todos que acabar enterrados na miséria. Acho que merecemos novas oportunidades, não importa o quanto conseguimos estragar oportunidades antigas.
Beijinhos

 

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