31/03/2013

Sermões interrompidos

Publicada por Ana Reis à(s) domingo, março 31, 2013 0 comentários complexos


Sou uma pessoa estranha. Mas quem precisa de rótulos realmente?

Não morro de amores por festas barulhentas. Abomino a privação de sono. A mutilação dos meus preciosos tímpanos. Gosto de pensar que não terei a desagradável tendência de berrar na cara das pessoas quando chegar à senilidade.

E contudo. Apesar de tudo isso. Continua a ser difícil manter-me num estado de isolamento auto-imposto que a escrita precisa. Existem copos de água à espera de serem bebidos. Chocolates abandonados no armário da cozinha. Programas ridículos que precisam de ser criticados. Gatos que precisam de ser mimados. Sofás que precisam de ser aproveitados. Teias de aranha à espera de serem limpas, não vão os ditos insectos começar a sentir-se demasiado confortáveis.

Podia vomitar um qualquer discurso pré-fabricado. Com ideias que não me apetece defender. Com divagações levemente psicóticas. E intelectualizações fingindas. Tenho algumas de reserva.

Podia apressar todo este processo. Escrever uma respeitável parvoíce e ir dormir com a falsa sensação de dever cumprido. Mas não me apetece ser assim. Apetece-me ser patética e cometer erros.

Passei tanto tempo em plágio de ideias e estilos que não eram os meus. Com medo que as minhas próprias ideias fossem fracas como uma velha raquítica. Com medo que a minha voz fosse afónica e anorética.

Passei tanto tempo a pregar o correcto. A escrever coisas como "devemos", "temos que..." ou "não podemos". Passei tanto tempo a tentar ser uma boa escritora. Foi como rolar na lama e secar ao sol vezes sem conta.

Nunca pensei que fosse tão difícil raspar essa lama das minhas roupas. Nunca pensei que essa hipocrisia fosse tão difícil de ultrapassar.

Talvez por isso tenha criado este blog. Numa altura em que estava enjoada comigo mesma. A ressacar dos meus delírios de grandeza. A ressentir-me dos poucos frutos e dos muitos esforços. Criei-o na ânsia de me desligar da hipocrisia que fui alimentando ao longo de horas e horas de más filosofias.

Criei-o para ter a liberdade de escrever mal e porcamente. E para ignorar respeitosamente todas as regras da boa escrita. Criei-o porque me fartei de escrever o correcto.

Criei-o porque percebi que é muito mais interessante escrever até encontrar algo importante para dizer, do que propagar ideias estéreis de seriedade com palavras bonitas.

09/03/2013

50 tons de vermelho

Publicada por Ana Reis à(s) sábado, março 09, 2013 0 comentários complexos
As minhas indecentes faces rosadas já me meteram em mais sarilhos do que aqueles que eu gosto de partilhar. Tantos que poderia começar a relatá-los agora mesmo e daqui a um ano ainda estaria aborrecer-vos com a mesma conversa (talvez até escreva uma trilogia.. who knows...).

by aftab


Eventualmente fiquei cansada de lutar contra isso. Até porque estava a ter tanto sucesso quanto o nosso querido primeiro-ministro e as suas medidas de austeridade.

Não posso simplesmente pôr um saco na cara e fingir que a minha cara não está a arder como um incêndio florestal. Mais vale pôr o cabelo atrás da orelha e deixar que os outros desfrutem em pleno da visão das minhas faces incandescentes.

 

Serious Complexity Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos